No estudo, um total de 4.243 relatórios de uso ilegal de recursos naturais foram avaliados e mapeados. Esses relatórios geraram US $ 224,6 milhões em multas. Em geral, foram encontrados 27 tipos de uso ilegal de recursos naturais, as atividades ilegais mais comumente registradas são à supressão e degradação da vegetação (37,36%), seguidas de pesca ilegal (27,34%) e atividades de caça (18,15%).
A Amazônia brasileira é a maior região de floresta tropical do mundo, cobrindo uma área estimada em 4,3 milhões de km 2 . A área possui um nível surpreendente de biodiversidade e é fundamental para a regulação climática global. Apesar do aumento da cobertura da área protegida nas últimas três décadas, o uso ilegal de recursos naturais dentro das áreas protegidas continua e, ao longo do tempo, podem prejudicar a biodiversidade da região e os serviços ecossistêmicos. Algumas dessas atividades ilegais podem ser detectadas por sensoriamento remoto, mas a maioria permanece despercebida e mal compreendida.
Os autores testaram várias hipóteses sobre fatores que poderiam explicar a incidência de atividades ilegais em áreas protegidas. Esses fatores incluíram, tipo de categoria de gerenciamento (ou seja, uso estritamente protegido ou sustentável), idade de reserva, densidade populacional e acessibilidade. Eles descobriram que a densidade da população e a acessibilidade são os fatores mais sensíveis para a intensidade das atividades ilegais. Em particular, a densidade populacional humana dentro de 50 km foi uma variável chave que influenciou a atividade ilegal
“Nosso artigo demonstra que as atividades ilegais dentro das áreas protegidas ainda são penetrantes em toda a região e que muito mais trabalho é necessário para entender suas causas e encontrar formas de preveni-las”, afirma o autor Érico Kauano, que também trabalha para o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), agência brasileira responsável pela gestão das áreas federais protegidas.
“Esperamos que o nosso artigo possa destacar a urgência de mudar o fluxo dos recursos dedicados à conservação da floresta, desde os escritórios bem conservados em cidades distantes dos problemas reais até a linha de frente onde o destino das florestas tropicais será decidido nas próximas décadas”, escreve Érico Kauano.
“A colheita seletiva e a caça eliminam as principais espécies que são essenciais para a manutenção dos processos ecológicos que sustentam florestas saudáveis”, afirma Fernanda Michalski, professora da Universidade Federal do Amapá, uma das autoras do artigo e que passou vários anos estudando os efeitos da caça em toda a região.
Embora o Brasil tenha sido um líder global no uso da detecção remota para identificar mudanças ecológicas em larga escala nas florestas tropicais, os distúrbios que ocorrem “sob o dossel” permanecem em grande parte não detectados e seus efeitos mal compreendidos. A proteção das florestas tropicais em todo o mundo continua sendo um desafio global. Os recursos financeiros para conduzir as bases necessárias para prevenir e compreender as atividades ilegais que prejudicam esse ecossistema crítico são escassos.
Fonte: Érico E. Kauano, Jose MC Silva, Fernanda Michalski. Uso ilegal de recursos naturais em áreas federais protegidas da Amazônia brasileira. PeerJ , 2017; 5: e3902 DOI: